sábado, 10 de dezembro de 2011

Um vestido de noiva

    Sinal fechado da Av. Duque de Caxias. 


Para Alaíde


Sempre tive um fascínio por noivas, vejo como um momento em que a mulher se torna princesa, cinderela de só um dia que quando o sonho acaba é preciso deixar o vestido. O vestido, especialmente o vestido é o que me prende e não me faz deixar de olhar. Branco, Saia pesada de cetim, mangas longas de ombreiras bufantes, frente com formato de coração e o colo acompanhado de renda, costas também em renda com mais ou menos 32 botões de feixe e a rosto da minha irmã triste, porque esse não era o modelo de vestido que ela queria casar. Bege, tomara que caia, saia pesada, cauda longa, o busto trabalhado no mix de pérolas com cristais e Ivana encantada com seu vestido, menos com o marido. 2 Lençois branco, um amarrado na cabeça, o outro amarrado como um lanço na altura do busto e eu satisfeitíssima casava sem noivo, sem padre e sem convidados no corredor da minha casa. Desisti dos lençois e comecei a desenhar diversos modelos de vestidos de noivas, cada vez que terminava um logo inventava outro, assim satisfazia em mim um desejo de vestir todos vestidos que desenhava sem que fosse necessário um casamento para isso. Pois era a mim quem eu desenhava e todos os vestidos que eu desejava casar. Acredito que fazer um vestido de noiva é dificil não por seu volume, mas, por toda sua riqueza de detalhes que enche os olhos. Certa vez participava do processo de um espetáculo com somente três atrizes em cena onde suas personagens representavam três irmãs, orfãs de pai e de mãe. Como a mãe na história era uma figura forte e queríamos po-la em cena, não decidimos por fotografias ou qualquer outra imagem figurativa e sim por um vestido de noiva. Poderíamos ter comprado ou mandado fazer, mas, pra mim naquele momento foi importante eu mesma construir esse vestido. Comprei os tecidos, os veús, cordões de pérolas e com uma tesoura, uma agulha e um tubo de linha branca fiz a mão o meu primeiro vestido de noiva.


Para exercício cênico do 13º Ato, na disciplina de montagem do IFCE.

sábado, 1 de outubro de 2011

Sangue na sapatilha ou o enigma da liberdade*

Para Pina Bausch


De criança, brincávamos de esconde-esconde.
Ainda se lembra de nossos jogos?
Todos se escondem, um espera
O rosto contra uma árvore ou parede
As Mãos sobre os olhos, até que o último
Encontre seu lugar, e quem for descoberto
Tem de correr do pegador.
Se chegar peimeiro na árvore, está livre.
Se não fica parado no lugar
Como se bater a mão numa árvore ou parede
O pregasse ao chão como pedra sepulcral
Ele não pode se mover até que o último
Seja encontrado. E ás vezes o último
Por estar tão bem escondido, não é encontrado.
Então todos esperam, petrificados
Cada qual seu próprio monumento, pelo último.
E ás vezes acontece morrer um.
Seu esconderijo não é encontrado, não há
Fome que o faça escapar da sua morte
Aquela que o encontrou fora da fita
Os mortos não têm mais fome.
Então não há ressurreição. O pegador
Revirou cada pedra quatro vezes.
Agora só pode esperar, o rosto
Contra a árvore ou parede
As mãos sobre os olhos, até que o mundo
Tenha passado por ele. Você percebe seu andar
Ponha suas mãos sobre os olhos, irmãos.
Os outros, que o pegador pregou ao chão
Ao bater a mão numa árvore ou parede não correram
Depressa de seu esconderijo que não era bem seguro,
Eles agora não têm mais sobre seus olhos as mãos,
Não mais podem se mover e também os olhos não podem fechar
De acordo com as regras do jogo.
Como pedras no cemitério esperam eles
Com os olhos abertos para o último olhar...



Heiner Müller

terça-feira, 20 de setembro de 2011